Desde final de 2008 que tenho colaborado mensalmente com a Sportlife. No Outside relato as minhas aventuras pelo nosso maravilhoso país e passarei também a partilhá-las convosco aqui. Às vezes colocarei aqui qualquer outro passeio que realize. Gostaria muito que me dessem a vossa opinião, se fizerem algum desses passeios ou simplesmente se vos der vontade disso. Digam-me que mais informações gostariam de ver publicadas nos nossos artigos.

Estarei à vossa disposição para qualquer dica extra que precisarem para fazer alguma destas aventuras ou outras.

Espero que gostem e se aventurem!

Filipe Palma

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Jul 09 - À Descoberta da Ria Formosa



Entrámos por um canal sem sabermos se tinha saída. No nosso mapa não estava indicado. Fomos avançando na esperança de ter ligação ao nosso destino. Estávamos a ter imenso gozo. O percurso sinuoso e cada vez mais apertado estava a ser muito bonito. A ausência de pessoas e qualquer construção davam à paisagem um carácter selvagem e remoto. A própria sensação do desconhecido era apelativa. Embora muitas vezes, um regresso pelo mesmo caminho seja tão ou mais interessante, psicologicamente, não gosto de voltar atrás. E, na aventura, das coisas mais importantes é saber voltar atrás. Mas, aqui não se colocava a questão de segurança. As águas são protegidas, muito calmas e, a única coisa que poderia acontecer neste canal, era a maré começar a descer rapidamente e nós ficarmos com os nossos caiaques a seco, atolados neste braço da ria, inundado pela preia-mar, duas vezes por dia. Se isso acontecesse, teríamos que dormir por ali e esperar nova maré-cheia. E estávamos em autonomia, tínhamos tudo para dormir e comer confortavelmente. Não tínhamos pressa de chegar a lado nenhum.

O Parque Natural (PN) da Ria Formosa é a nossa área protegida mais a sul. Abrange uma extensa zona que vai desde o rio Ancão, junto à Quinta do Lago a oeste, até à praia da Manta Rota, do lado nascente. É protegida do oceano Atlântico por cinco ilhas dunares (ilha da Barreta, ilha da Culatra, ilha da Armona, ilha de Tavira e ilha de Cabanas). Foi em Cacela-a-Velha que começamos o nosso passeio de dois dias em autonomia em caiaque.



Aproveitámos a maré a vazar para ir a favor da corrente, na direcção de Cabanas, Tavira e Santa Luzia. Com os meus botões ia o Caimão Comum, uma ave maravilhosa, de um azul intenso com bico e patas encarnadas. Levava os meus binóculos para tentar avistar esta ave, símbolo do PN da Ria Formosa, ou outras interessantes, que pudessem aparecer. Esta diversidade é uma das riquezas deste parque. O nível da água já estava muito baixo e, nalguns locais, os caiaques tocavam o fundo. De repente, a minha mulher soltou um grito de entusiasmo: “Uma raia, vi uma raia!” Voltou atrás mas já não voltou a vê-la. Continuámos até à barra de Tavira e, cuidadosamente observámos a direcção e intensidade da corrente (ver caixa DICAS ÚTEIS). Para variar, saímos ao mar e, depois de percorrermos um pouco do extenso areal da ilha de Tavira, parámos para fazer praia. Umas horas mais tarde, após o nosso intervalo, voltámos a entrar para a ria. O interior deste enorme sapal, com os canais, é muito mais interessante para remar que a costa de extensas praias. Foi quando entrámos no canal, aparentemente sem fim, mas que foi afunilando cada vez mais até não permitir a nossa navegação. Desapontados com o fim mas, mais que satisfeitos com a nossa opção exploratória, regressámos rapidamente para conseguirmos prosseguir a nossa viagem sem ficar presos por falta de água. Terminámos na praia do Barril, em Pedras D’Rey, e, no dia seguinte, voltámos a Tavira.


DICAS ÚTEIS

Recomendo-te fazeres este passeio de 1 dia começando em Cacela-a-Velha e terminando em Santa Luzia ou, um pouco antes, nas Quatro Águas, junto ao Clube Náutico de Tavira. Planear o passeio com as marés é fundamental para não andares a remar contra a corrente. No sítio do Instituto Hidrográfico
www.hidrografico.pt, no porto de Tavira, podes consultar as marés. De Cacela a Tavira recomendo a maré vazante. Se deixares o carro em Cacela-a-Velha, podes recuperá-lo regressando de táxi. Podes consultar e encontrar informação de aves no excelente sítio das aves de Portugal: www.avesdeportugal.info

Alerta - Junto às barras, nas marés vazantes, a corrente para o mar pode ser muito forte e deverás evitá-la.

Diverte-te e cuida das nossas áreas protegidas.

Jun 09 - Arrábida a Pé, Pico do Formosinho



Subi a íngreme encosta envolvido por intensos verdes mediterrânicos. No topo avistei o azul sem fim do Atlântico. E desci na direcção do Portinho, uma praia de características únicas no nosso país.

Nesta Primavera voltei à Serra da Arrábida. Em vez do espectacular passeio em kayak que vos sugeri no final do Verão passado resolvi caminhar. Neste parque natural há caminhadas muito bonitas de diversas durações e com vários níveis de dificuldade. Alem de passear na natureza, um dos meus objectivos era melhorar a minha forma. Escolhi por isso um dos itinerários mais "puxados", não propriamente pelo nível técnico mas pelo nível físico. A subida ao Pico do Formosinho, o ponto mais alto desta serra, encaixou perfeitamente nestes objectivos e, preparado com o meu pic-nic, comecei cedo.



Deixei o carro nos Casais da Serra. Da estrada de alcatrão sai uma estrada de terra na direcção do parque de campismo dos Picheleiros, um outro ponto possível de partida. Caminhei por entre quintas, na base desta magnifica serra. Aqui, a estrada é praticamente plana e serve como um bom aquecimento. Este percurso pedestre não tem indicações nem nenhum painel interpretativo pelo que um mapa com a rota identificada é bastante recomendável. Pouco depois da Quinta da Ramada, logo a seguir a uma curva apertada para a esquerda, sai um caminho para a direita, a subir ligeiramente. Uns metros logo a seguir, novamente para a direita, sai um trilho muito estreito com vegetação densa a envolve-lo. É aqui que começa a subida propriamente dita de atravessamento da serra ate ao Portinho da Arrábida.

Subi pelo trilho em zig-zag. As muitas arvores e arbustos à minha volta tornam esta secção agradavelmente fresca, mesmo no Verão. Cheguei a uma clareira onde a subida é temporariamente interrompida por um pequeno planalto. Procurei a continuação do trilho à direita e continuei a subir até encontrar uma pequena rampa de seixos. Por debaixo de algumas pequenas árvores o trilho sobe para a direita cortando a encosta. A subida passa a ser muito íngreme e, em algumas zonas, com algumas pedras soltas. Aqui temos que redobrar as nossas atenções e ser muito cuidadosos. A partir daqui, a qualquer momento, podemos olhar para trás e desfrutar de vistas amplas. As paragens são, por isso, oportunas e um óptimo pretexto para descansar. A combinação desta vegetação rasteira, tipicamente mediterrânica, com as imponentes paredes de pedra calcária dão à Serra da Arrábida um carácter único e especial. Quando chegamos ao cimo da encosta o trilho torna-se cada vez mais suave. Aqui há várias opções e, para chegarmos ao ponto mais alto da serra, temos que escolher o caminho da esquerda, bem marcado entre os densos arbustos cortados. Umas dezenas de metros mais acima encontramos um marco geodésico. É o cume da Serra da Arrábida, o Pico do Formosinho, com 500 metros de altitude. Para norte, avistamos toda a margem sul de Lisboa, a costa do Estoril e Cascais e a Serra de Sintra. No quadrante este podemos observar Azeitão e Palmela. Para oeste, a continuação deste património valioso que é o Parque Natural da Arrábida e para sul o vasto Oceano Atlântico. Em dias de boa visibilidade conseguimos alcançar com o nosso olhar a península de Tróia e toda a costa de praias ate ao Cabo de Sines.

No Pico do Formosinho fiz o meu pic-nic e continuei a minha caminhada na direcção do Portinho da Arrábida. A vegetação intransponível obriga-nos a caminhar pelos trilhos e, embora haja mais que uma opção, temos que dirigir-nos ao mar. Um pouco mais à frente há uma passagem rochosa um pouco mais difícil mas transponível. A partir daqui o trilho volta a ficar coberto de árvores e arbustos ate chegarmos à estrada de alcatrão. Viramos à direita e continuamos a descer pela estrada ate ao Convento da Arrábida, espectacularmente localizado. Logo a seguir, viramos à esquerda pelo trilho, novamente na sombra das árvores. Por fim, voltamos a encontrar uma estrada de alcatrão, junto ao acesso ao Portinho da Arrábida. Seguimos pela estrada e chegamos à praia.

Este percurso é linear e temos que antecipar o regresso, ou com um carro de um amigo entretanto deixado no final do trilho, ou com recurso a um táxi previamente combinado. Este percurso pode ser feito em qualquer época do ano. É um percurso bastante exposto e devemos sempre levar agasalhos, água e um farnel. Evitá-lo com dias de chuva.

Se quiseres fazer um dos nossos passeios não hesites em nos contactares.

Se já fizeste diz-nos como foi.

Participa!

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Mai 09 - À Beira do Tejo, no Trilho das Jans





Enquanto percorríamos o caminho de pedra ao longo do Tejo interrogávamo-nos: “Mas será que a câmara construiu este soberbo paredão só para podermos caminhar ao longo do rio?!” Parecia corresponder a um enorme e exagerado investimento para um simples trilho pedestre, coisa que não estamos habituados a ver. E, na realidade, esta não foi uma construção recente com este propósito. Foi sim, o excelente aproveitamento que a Câmara Municipal de Nisa fez, em conjunto com outras entidades, dum velho muro de sirga que servia para rebocar rio acima, a partir da margem, os barcos até Vila Velha de Rodão. Hoje, podemos caminhar neste troço durante três quilómetros, a partir da Barca da Amieira até à barragem de Fratel. O caminho é muito bonito sendo a paisagem uma transição entre o nosso sul e o nosso norte, entre o Alentejo e a Beira Baixa.







Na margem norte, corre a linha férrea. Antigamente (até muito recentemente), o comboio parava neste apeadeiro para os passageiros descerem e acederem à margem sul e daí até à Amieira, mais isolada. O rio era atravessado por uma barcaça e daí o lugar se chamar a Barca da Amieira. Foi aqui que começámos o nosso percurso pedestre (PR1). No parque de estacionamento, um painel interpretativo dá-nos as informações essenciais: um percurso circular de dificuldade média, com 12,6 kms de comprimento e a realizar em, aproximadamente, 3 horas e meia. Tem também o mapa e dá-nos outras informações que, não sendo essenciais, nos enriquecem o passeio. Uma delas é a história que dá o nome ao nosso percurso pedestre, o Trilho das Jans.






As Jans eram umas mulheres invisíveis que fiavam um linho muito fino e sem nós. A lenda dizia que, “quem quisesse uma peça tecida pelas Jans teria que deixar de noite o linho e um bolo de farinha de trigo a cozer na lareira. Terminado o trabalho, estas desapareciam misteriosamente levando consigo o petisco”. Conta-se também que, depois de morrer em Estremoz, o corpo da Rainha Santa Isabel, casada com D. Dinis, foi transportado desde a Amieira até aqui trajando um vestido de linho tecido pelas Jans.






Caminhámos ao longo do nosso maior rio mas, no sentido contrário ao da corrente. Nesta secção, as águas têm movimento, inclusivamente um rápido, e sugerem-nos um passeio combinado a pé e de caiaque, talvez numa próxima oportunidade. O caminho é exposto e, de vez em quando, no outro lado do rio, passa um comboio. Não sabemos se os passageiros nos vêem mas dizemos “adeus” na mesma. Imaginamos as pessoas lá dentro, felizes na sua viagem panorâmica de comboio. Nesta parte do percurso há poucas sombras mas acabámos por encontrar um bom local para o pic-nic. Ao contrário do Tejo mais conhecido, onde as suas margens se perdem na extensão das lezírias, aqui o rio é estreito e as suas margens são rochosas e inclinadas. As Portas de Rodão, a montante da barragem de Fratel, são o melhor exemplo deste fenómeno geológico. A cerca de 3 km do início, o paredão desaparece e dá lugar a um trilho mais desordenado pelo meio de pedras. Continuámos mais um pouco até avistarmos a ribeira de Figueiró. Aqui, deixámos de ver o trilho e subimos até uma pequena casa de pedra. Parámos para descansar um pouco e imaginámo-nos ali dois dias em contemplação. A vista para o Tejo era desafogada e bonita. Continuámos pela subida a pique que mais parecia um corta-fogo. Do lado esquerdo, ao fundo, estava a barragem de Fratel e a albufeira por si formada. Num ponto mais acima, ofegantes, encontrámos outro painel interpretativo onde confirmámos a nossa localização. Aproveitámos para descansar. A partir daqui, caminhámos mais no Alentejo, por entre campos de pasto, azinheiras e sobreiros. Ainda apanhámos uma boleia dum tractor mas antes da Amieira pedimos ao condutor para parar. Nós queríamos mesmo era caminhar. Chegados à extremidade norte da Amieira, à estrada de alcatrão, virámos à direita e andámos até o sinal de trilho pedestre nos indicar a saída à esquerda, novamente para o caminho de terra. Descemos e, do lado esquerdo dum gancho, pudemos ver ao longe o castelo da Amieira, outra das atracções que merece ser visitada. Acabámos finalmente no nosso ponto de partida, a Barca da Amieira.






A meio, para os mais activos, há uma possibilidade de extensão do passeio. Para quem quer evitar a subida íngreme e encurtar o passeio pode, chegando ao fim do muro de sirga (3,5 kms), regressar pelo mesmo caminho até à barca da Amieira. Será assim um passeio de 7 km sempre plano que pode ser feito por pessoas menos desportivas ou mesmo crianças. E tem a vantagem de sabermos sempre o que vai ficando para trás. Em qualquer dos casos, não deixes de fazer este passeio que é surpreendentemente bonito.

Abr 09 - Na Rota dos Grifos





Aproveitei o Carnaval deste ano para conhecer um pouco da Beira Baixa. Fui para Proença-a-Nova preparado para caminhar e andar de bicicleta. Por aqui, apenas tinha passado na auto-estrada a caminho do Norte. E, o que à chegada me parecia um território relativamente desinteressante revelou-se, ao contrário, uma zona cheia de opções apelativas para quem gosta de se mexer na natureza.





Na casa de turismo rural, onde fiquei com família e amigos (ver caixa), havia várias sugestões de passeios pedestres, de BTT e de carro. Escolhemos para um dos dias uma caminhada ao longo dum desfiladeiro que acompanha parte do Rio Ocreza e Ribeira do Alvito. Íamos motivados pela possibilidade de nos cruzarmos com algum dos 12 casais de grifos que nidificam nestas escarpas.





Partimos de Sobral Fernando, a 14 km da nossa base em Oliveiras e a 23 km de Proença-a-Nova. Na parte mais baixa desta pequena aldeia encontra-se um placard explicativo do passeio sugerido. A partir daí, o percurso está bem indicado com os sinais de Pequena Rota (PR). Subimos por Sobral Fernando acima e, ao fundo, virámos à esquerda deixando o povoamento para trás. Cerca de 70 metros mais à frente virámos na primeira à direita e passados outros 50 metros novamente à direita. Continuámos sempre a subir pelo caminho de terra batida, por mais 150 metros e, entrando na área florestal dominada por pinheiros bravos virámos à esquerda para cima. Passados cerca de 50 metros encontrámos uma bifurcação e seguimos pela direita. A partir deste local a orientação é muito fácil pois apenas temos que seguir o caminho principal. Este é o aproveitamento de um estradão e, embora o fizéssemos a pé também poderíamos ter escolhido a bicicleta de montanha. Nesse caso, ao invés de um passeio fácil, teríamos um de dificuldade média.




As paredes rochosas abundam nesta área e é onde os grifos, uma espécie de abutre, constroem os seus ninhos a partir dos quais se lançam nos seus voos majestosos aproveitando as térmicas para se elevarem aos céus. E assim, a meio do dia, que estava bastante quente para a época do ano, finalmente avistámos vários exemplares destas aves que podem atingir dois metros e meio de envergadura. Os grifos põem o seu único ovo no final de Janeiro e, até as crias realizarem o seu primeiro voo, poderão decorrer quase seis meses. Esta é a razão pelo qual, entre Janeiro e Junho, é interdito escalar nestas vertentes rochosas pois a escalada é também uma aliciante desta zona. Em Portugal, além dos Parques Naturais do Douro Internacional e do Tejo Internacional, aqui é onde se podem avistar esta espécie de aves.





Acompanhámos o rio Ocreza, um afluente do Tejo e encontrámos vários placards explicativos da natureza à nossa volta, quer seja da fauna ou da flora. A lontra encontra-se nas águas bastante límpidas do Ocreza enquanto que a cegonha preta, cujas rotas migratórias são as mesmas que os grifos, prefere os penhascos de difícil acesso. Não avistámos nenhuma destas espécies mas ficámos a saber da existência aqui. Lá em baixo, os pequenos rápidos que conseguimos ver do caminho, sugeriam boas condições para a canoagem. As margens altas, inclinadas e rochosas fazem deste um rio bastante bonito. A partir dos cerca de 2,5 km do percurso, passámos a acompanhar a ribeira do Alvito envolvida por um manto de oliveiras em ambas as margens. Quando encontrámos um desvio para baixo, decidimos aceder à ribeira para fazer o nosso pic-nic. Foi uma excelente ideia que todos apreciámos pois este percurso, embora bastante bonito, está sempre bastante acima do nível do rio e da ribeira.




Terminámos a nossa caminhada em Carregais. Sem contar com o pic-nic e a um ritmo lento durou cerca de 3 horas. Podes regressar pelo mesmo caminho ou, antes de começares a caminhar, ires deixar um carro ao final do percurso. Há ainda uma possibilidade de continuares por outra PR que começa mesmo em Carregais. Não percas o Ocreza.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Mar 09 - Faial, À Volta do Vulcão




Já por várias vezes me encontrei na caldeira da ilha do Faial, nos Açores, a olhar para baixo, para a cidade da Horta, e dei por mim a pensar: “Isto podia ser Auckland, na Nova Zelândia”. As diferenças serão muitas mas esta comparação surge na minha mente pois, do alto da principal cidade neo-zelandesa, também se avistam inúmeras pequenas crateras de origem vulcânica e o verde vivo dos campos contrasta com o azul forte do mar. Provavelmente, ao fim de tantos anos de lá ter estado, é apenas uma imagem que retenho e limito-me a fazer esta associação de dois lugares tremendamente bonitos. E, pôr os Açores a par da Nova Zelândia, é elegê-lo como um dos destinos mais espectaculares do nosso planeta.

Mas os Açores dispensam comparações. É, por si só, um lugar suficientemente belo e cativante. E, se muitas vezes os deixamos para trás na nossa “lista”, talvez seja porque é “nosso” e como tal “estará sempre lá”, podemos deixar para o fim dos lugares a visitar. Mas, os que realmente lá chegam sabem como é errado esse raciocínio.



Algumas das melhores férias que passei foram nestas ilhas. E a beleza não se limita ao natural. Fiz bons amigos desde a primeira hora porque os Açores são assim, as pessoas são amigas, são calorosas, são generosas e fazem-nos sentir bem-vindos. E por isso volto sempre lá.

A minha sugestão deste mês é precisamente para o Faial, mais conhecida pela marina da Horta e pelo vulcão dos Capelinhos. Pela Horta passam todos os anos centenas de velejadores. A maioria vem das Caraíbas e a Horta é a sua primeira escala antes de chegarem à Europa continental. É para eles um grande motivo de regozijo após muitos dias no mar e também para os locais e visitantes que encontram aqui viajantes compulsivos cheios de histórias para contar. O vulcão dos Capelinhos foi o último em actividade no nosso território, em 1957-8.



Aparte estas atracções, para muitos o Faial é uma ilha menos bonita, menos interessante que outras açorianas. Mas a ilha Azul, como baptizou o escritor Raul Brandão, tem muitos mais atractivos. As condições são excelentes para vários desportos de aventura: caminhadas, BTT, caiaque de mar, mergulho, windsurf, vela, observação de baleias e golfinhos, pesca e parapente. E, por isso, proponho-te uma caminhada que é a minha preferida nesta ilha. A volta à caldeira a pé é um percurso fácil, faz-se em meio dia e tem vistas espectaculares para dentro e para fora da cratera deste extinto vulcão.

A caminhada começa no parque de estacionamento da caldeira onde podemos chegar de táxi ou de carro. Recomendo começares para o lado direito (norte) por cima de um túnel que dá acesso a um mirador com vista para dentro da caldeira. Caminhamos ao longo da crista e o percurso, embora não identificado, é bastante óbvio para qualquer pessoa. Às vezes há cercas de gado que, depois de abertas, devem ser fechadas. Do lado interior podemos observar a enorme cratera com 400 metros de profundidade e 2 km de diâmetro. Do lado de fora, começamos por ver a zona nordeste do Faial com o farol na ponta. Mais ao fundo avistamos, quase de perfil, a ilha de S. Jorge. Ainda mais longe, em dias excepcionais, conseguimos ver a ilha da Graciosa.

No lado norte, as linhas de água são muito profundas e estão preenchidas por tufos imensos de hortênsias azuis e brancas. Estas inúmeras linhas de água descem montanha abaixo na direcção do Salão, dos Cedros e da Praia do Norte revelando que este é o lado da ilha mais exposto às chuvas. Nalgumas zonas há grandes manchas de criptomérias, uma bonita espécie florestal proveniente do Japão.



Continuando por estas veredas, já virados a oeste avistamos três crateras mais pequenas: o Cabeço Verde, o Cabeço do Fogo e o Cabeço da Fonte. Estão alinhadas com o Vulcão dos Capelinhos que fica no limite oeste da ilha e que se distingue claramente dos outros por não ser verde mas sim castanho devido à sua erupção muito mais recente. A perspectiva que esta caminhada nos dá da ilha é muito interessante pois é muito abrangente e conseguimos localizar e relacionar no terreno acidentes geológicos que de outra forma só no mapa é possível fazê-lo, quase como uma vista aérea.

Quando nos viramos a sul, sempre pela crista da cratera, encontramos a estrada de alcatrão que se dirige ao ponto mais alto do Faial, o Cabeço Gordo, a 1043 metros de altitude. Caminhamos ao lado da estrada até às antenas e, daí, para baixo na direcção novamente do parque de estacionamento da caldeira, onde começamos o nosso passeio. Temos então à nossa frente o imponente e magnífico Pico, o ponto mais alto de Portugal com 2351 metros.



A caminhada dura cerca de 3 horas e devemos ter em atenção que o tempo nos Açores é muito irregular, podemos começar com sol e acabar com chuva e muito vento. Recomendo consultares a previsão meteorológica e levares um corta-vento e chuva, agasalhos e farnel numa mochila. Tens que ter em atenção também que nalgumas zonas da caminhada há algumas falésias que estão mais expostas e não têm protecções. Nessas zonas, recomendo escolheres o trilho mais distante das falésias.

Claro que todas estas vistas só são possíveis de ver em dias de boa visibilidade, o que nem sempre acontece nos Açores. A melhor altura é sem dúvida o verão mas noutras épocas do ano também podemos ter a sorte de ter bom tempo.

Aproveita os Açores!