Desde final de 2008 que tenho colaborado mensalmente com a Sportlife. No Outside relato as minhas aventuras pelo nosso maravilhoso país e passarei também a partilhá-las convosco aqui. Às vezes colocarei aqui qualquer outro passeio que realize. Gostaria muito que me dessem a vossa opinião, se fizerem algum desses passeios ou simplesmente se vos der vontade disso. Digam-me que mais informações gostariam de ver publicadas nos nossos artigos.

Estarei à vossa disposição para qualquer dica extra que precisarem para fazer alguma destas aventuras ou outras.

Espero que gostem e se aventurem!

Filipe Palma

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Fev 09 - Pedalar no Norte Alentejano





Aproveitei o Ano Novo para completar um pequeno projecto deixado a meio há uns anos atrás. Foi um espectacular passeio de BTT no Parque Natural da Serra de São Mamede sugerido pelo guia “Percursos de Natureza no Norte Alentejano” editado pela Região de Turismo de São Mamede. Na altura, num dia de Inverno curto e chuvoso, apenas foi possível realizar parte do percurso de aproximadamente 40 km.

No dia 2 de Janeiro deste ano voltei ao Marvão com família e amigos. Encontrámo-nos junto ao Convento da Nossa Senhora da Estrela. Estava novamente um dia cinzento e com chuva mas, a perspectiva de algumas abertas mantinha-nos animados.




Começámos a descer por uma calçada de pedra em direcção a Abegoa. A calçada é íngreme e a superfície de pedra estava molhada obrigando-nos a descer com os cuidados redobrados.

A pedra é uma presença constante nesta região e foi também aproveitada ao longo dos tempos para a construção de casas, muros e muralhas fazendo desta uma paisagem humana muito bonita e muito bem enquadrada no ambiente em redor.



A partir de Abegoa, o percurso torna-se mais suave e os castanheiros e os carvalhos envolvem-nos ao longo do passeio. Nesta época, o chão fica forrado com as suas folhas castanhas fazendo-nos sentir que estamos já em pleno Inverno. Ao pé de Ramila de Baixo, na Relva da Moura, deixámos as nossas bicicletas para um pequeno desvio de 5 minutos a pé. O propósito foi chegar a um acolhedor recanto no meio de abundante vegetação junto às águas cristalinas do Rio Sever. Valeu a pena.

Continuámos até Santo António das Areias, uma aldeia pitoresca e bem cuidada onde subsistem ainda algumas casas com traços senhoriais. No largo da igreja aproveitámos um momento sem chuva para o nosso já aguardado pic-nic.




A partir de Santo António das Areias começámos a pedalar por uma zona mais aberta onde as vistas são desafogadas. Ao longe conseguíamos ver a vila de Marvão, no alto do seu penhasco. O campo é ondulado e os caminhos e trilhos ladeados por intermináveis muros de pedra. Nos Açores, na ilha Terceira, diz-se que se construíram os muros para libertar a terra da pedra. Aqui parece o mesmo mas, ainda assim, sobra imensa. A agricultura parece impossível mas as casas em ruínas pelas quais vamos passando revelam que, antigamente, houve aqui intensa actividade. Algumas estão em localizações que nos fazem sonhar. Um dos amigos comenta: “Às vezes não saímos das nossas rotinas e nem sequer imaginamos o país lindíssimo que temos para explorar e desfrutar.”




Passámos por Cabeçudos, Vale da Escusa e pedalámos ao longo da ribeira do Cabril. Alguns caminhos são pouco ou nada utilizados. Em algumas passagens tivemos que desmontar das nossas bicicletas e caminhar a pé. Faz parte da aventura e de explorar o desconhecido.

Na Beirã encontrámos a passagem de nível encerrada. Aqui, o caminho-de-ferro continua activo e, expectantes, aguardámos a passagem do comboio. No meio do campo é sempre um momento engraçado, por nada em especial mas apenas pelo respeito que inspira e que faz todos parar à sua passagem.




À Beirã foi onde da última vez cheguei, vindo também de Marvão mas via Castelo de Vide. E, tal como da última vez, as horas (e o tempo de luz) aconselharam-nos a atalhar novamente caminho. Olhámos para o mapa e decidimos arriscar por um caminho que vai a direito na direcção de Marvão. “Arriscar” pois lembrei-me que, da outra vez, o regresso (provavelmente pelo mesmo sítio) foi atribulado e acabou com a bicicleta às costas nalgumas secções. É que, além dos caminhos irem fechando com o crescimento desmesurado dos arbustos e silvas, vão ficando cada vez mais inclinados. Passámos a Gamacha, a Castinceira, a Bica e o Souto Ferrador. Mais à frente, mesmo antes de chegar à Maceira passámos perto de um caminho de asfalto. Comentámos ser esta a última oportunidade para optarmos por um caminho civilizado. Mas, por aí, a distância era muito maior e a aventura continuava a apelar-nos. E, como muitas vezes acontece nestas situações, o caminho vai-se desvanecendo até acabar num campo ou numa casa desabitada. É normalmente quando já avançámos tanto que ninguém quer voltar para trás e…para a frente (para cima), fica uma encosta intransponível de bicicleta. Do lado de lá, a cerca de 500 metros vemos a estrada principal. Nestas alturas a determinação confunde-se com a teimosia (“Tem que haver um trilho a fazer a ligação”). E voltámos a acabar com as bicicletas às costas. Mas não chovia e, quando parávamos para descansar e nos voltávamos para trás podíamos desfrutar uma vista magnífica e a sensação de um dia muito bem passado.




Se decidires fazer esta rota recomendamos que, na parte final, faças o regresso por Maceira até à Fonte do Carvalho e depois pelo alcatrão até Marvão. Este percurso, no seu todo ou parcialmente é também recomendado para fazer a pé.






Sem comentários: