Desde final de 2008 que tenho colaborado mensalmente com a Sportlife. No Outside relato as minhas aventuras pelo nosso maravilhoso país e passarei também a partilhá-las convosco aqui. Às vezes colocarei aqui qualquer outro passeio que realize. Gostaria muito que me dessem a vossa opinião, se fizerem algum desses passeios ou simplesmente se vos der vontade disso. Digam-me que mais informações gostariam de ver publicadas nos nossos artigos.

Estarei à vossa disposição para qualquer dica extra que precisarem para fazer alguma destas aventuras ou outras.

Espero que gostem e se aventurem!

Filipe Palma

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Mai 09 - À Beira do Tejo, no Trilho das Jans





Enquanto percorríamos o caminho de pedra ao longo do Tejo interrogávamo-nos: “Mas será que a câmara construiu este soberbo paredão só para podermos caminhar ao longo do rio?!” Parecia corresponder a um enorme e exagerado investimento para um simples trilho pedestre, coisa que não estamos habituados a ver. E, na realidade, esta não foi uma construção recente com este propósito. Foi sim, o excelente aproveitamento que a Câmara Municipal de Nisa fez, em conjunto com outras entidades, dum velho muro de sirga que servia para rebocar rio acima, a partir da margem, os barcos até Vila Velha de Rodão. Hoje, podemos caminhar neste troço durante três quilómetros, a partir da Barca da Amieira até à barragem de Fratel. O caminho é muito bonito sendo a paisagem uma transição entre o nosso sul e o nosso norte, entre o Alentejo e a Beira Baixa.







Na margem norte, corre a linha férrea. Antigamente (até muito recentemente), o comboio parava neste apeadeiro para os passageiros descerem e acederem à margem sul e daí até à Amieira, mais isolada. O rio era atravessado por uma barcaça e daí o lugar se chamar a Barca da Amieira. Foi aqui que começámos o nosso percurso pedestre (PR1). No parque de estacionamento, um painel interpretativo dá-nos as informações essenciais: um percurso circular de dificuldade média, com 12,6 kms de comprimento e a realizar em, aproximadamente, 3 horas e meia. Tem também o mapa e dá-nos outras informações que, não sendo essenciais, nos enriquecem o passeio. Uma delas é a história que dá o nome ao nosso percurso pedestre, o Trilho das Jans.






As Jans eram umas mulheres invisíveis que fiavam um linho muito fino e sem nós. A lenda dizia que, “quem quisesse uma peça tecida pelas Jans teria que deixar de noite o linho e um bolo de farinha de trigo a cozer na lareira. Terminado o trabalho, estas desapareciam misteriosamente levando consigo o petisco”. Conta-se também que, depois de morrer em Estremoz, o corpo da Rainha Santa Isabel, casada com D. Dinis, foi transportado desde a Amieira até aqui trajando um vestido de linho tecido pelas Jans.






Caminhámos ao longo do nosso maior rio mas, no sentido contrário ao da corrente. Nesta secção, as águas têm movimento, inclusivamente um rápido, e sugerem-nos um passeio combinado a pé e de caiaque, talvez numa próxima oportunidade. O caminho é exposto e, de vez em quando, no outro lado do rio, passa um comboio. Não sabemos se os passageiros nos vêem mas dizemos “adeus” na mesma. Imaginamos as pessoas lá dentro, felizes na sua viagem panorâmica de comboio. Nesta parte do percurso há poucas sombras mas acabámos por encontrar um bom local para o pic-nic. Ao contrário do Tejo mais conhecido, onde as suas margens se perdem na extensão das lezírias, aqui o rio é estreito e as suas margens são rochosas e inclinadas. As Portas de Rodão, a montante da barragem de Fratel, são o melhor exemplo deste fenómeno geológico. A cerca de 3 km do início, o paredão desaparece e dá lugar a um trilho mais desordenado pelo meio de pedras. Continuámos mais um pouco até avistarmos a ribeira de Figueiró. Aqui, deixámos de ver o trilho e subimos até uma pequena casa de pedra. Parámos para descansar um pouco e imaginámo-nos ali dois dias em contemplação. A vista para o Tejo era desafogada e bonita. Continuámos pela subida a pique que mais parecia um corta-fogo. Do lado esquerdo, ao fundo, estava a barragem de Fratel e a albufeira por si formada. Num ponto mais acima, ofegantes, encontrámos outro painel interpretativo onde confirmámos a nossa localização. Aproveitámos para descansar. A partir daqui, caminhámos mais no Alentejo, por entre campos de pasto, azinheiras e sobreiros. Ainda apanhámos uma boleia dum tractor mas antes da Amieira pedimos ao condutor para parar. Nós queríamos mesmo era caminhar. Chegados à extremidade norte da Amieira, à estrada de alcatrão, virámos à direita e andámos até o sinal de trilho pedestre nos indicar a saída à esquerda, novamente para o caminho de terra. Descemos e, do lado esquerdo dum gancho, pudemos ver ao longe o castelo da Amieira, outra das atracções que merece ser visitada. Acabámos finalmente no nosso ponto de partida, a Barca da Amieira.






A meio, para os mais activos, há uma possibilidade de extensão do passeio. Para quem quer evitar a subida íngreme e encurtar o passeio pode, chegando ao fim do muro de sirga (3,5 kms), regressar pelo mesmo caminho até à barca da Amieira. Será assim um passeio de 7 km sempre plano que pode ser feito por pessoas menos desportivas ou mesmo crianças. E tem a vantagem de sabermos sempre o que vai ficando para trás. Em qualquer dos casos, não deixes de fazer este passeio que é surpreendentemente bonito.

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