Desde final de 2008 que tenho colaborado mensalmente com a Sportlife. No Outside relato as minhas aventuras pelo nosso maravilhoso país e passarei também a partilhá-las convosco aqui. Às vezes colocarei aqui qualquer outro passeio que realize. Gostaria muito que me dessem a vossa opinião, se fizerem algum desses passeios ou simplesmente se vos der vontade disso. Digam-me que mais informações gostariam de ver publicadas nos nossos artigos.

Estarei à vossa disposição para qualquer dica extra que precisarem para fazer alguma destas aventuras ou outras.

Espero que gostem e se aventurem!

Filipe Palma

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Mar 09 - Faial, À Volta do Vulcão




Já por várias vezes me encontrei na caldeira da ilha do Faial, nos Açores, a olhar para baixo, para a cidade da Horta, e dei por mim a pensar: “Isto podia ser Auckland, na Nova Zelândia”. As diferenças serão muitas mas esta comparação surge na minha mente pois, do alto da principal cidade neo-zelandesa, também se avistam inúmeras pequenas crateras de origem vulcânica e o verde vivo dos campos contrasta com o azul forte do mar. Provavelmente, ao fim de tantos anos de lá ter estado, é apenas uma imagem que retenho e limito-me a fazer esta associação de dois lugares tremendamente bonitos. E, pôr os Açores a par da Nova Zelândia, é elegê-lo como um dos destinos mais espectaculares do nosso planeta.

Mas os Açores dispensam comparações. É, por si só, um lugar suficientemente belo e cativante. E, se muitas vezes os deixamos para trás na nossa “lista”, talvez seja porque é “nosso” e como tal “estará sempre lá”, podemos deixar para o fim dos lugares a visitar. Mas, os que realmente lá chegam sabem como é errado esse raciocínio.



Algumas das melhores férias que passei foram nestas ilhas. E a beleza não se limita ao natural. Fiz bons amigos desde a primeira hora porque os Açores são assim, as pessoas são amigas, são calorosas, são generosas e fazem-nos sentir bem-vindos. E por isso volto sempre lá.

A minha sugestão deste mês é precisamente para o Faial, mais conhecida pela marina da Horta e pelo vulcão dos Capelinhos. Pela Horta passam todos os anos centenas de velejadores. A maioria vem das Caraíbas e a Horta é a sua primeira escala antes de chegarem à Europa continental. É para eles um grande motivo de regozijo após muitos dias no mar e também para os locais e visitantes que encontram aqui viajantes compulsivos cheios de histórias para contar. O vulcão dos Capelinhos foi o último em actividade no nosso território, em 1957-8.



Aparte estas atracções, para muitos o Faial é uma ilha menos bonita, menos interessante que outras açorianas. Mas a ilha Azul, como baptizou o escritor Raul Brandão, tem muitos mais atractivos. As condições são excelentes para vários desportos de aventura: caminhadas, BTT, caiaque de mar, mergulho, windsurf, vela, observação de baleias e golfinhos, pesca e parapente. E, por isso, proponho-te uma caminhada que é a minha preferida nesta ilha. A volta à caldeira a pé é um percurso fácil, faz-se em meio dia e tem vistas espectaculares para dentro e para fora da cratera deste extinto vulcão.

A caminhada começa no parque de estacionamento da caldeira onde podemos chegar de táxi ou de carro. Recomendo começares para o lado direito (norte) por cima de um túnel que dá acesso a um mirador com vista para dentro da caldeira. Caminhamos ao longo da crista e o percurso, embora não identificado, é bastante óbvio para qualquer pessoa. Às vezes há cercas de gado que, depois de abertas, devem ser fechadas. Do lado interior podemos observar a enorme cratera com 400 metros de profundidade e 2 km de diâmetro. Do lado de fora, começamos por ver a zona nordeste do Faial com o farol na ponta. Mais ao fundo avistamos, quase de perfil, a ilha de S. Jorge. Ainda mais longe, em dias excepcionais, conseguimos ver a ilha da Graciosa.

No lado norte, as linhas de água são muito profundas e estão preenchidas por tufos imensos de hortênsias azuis e brancas. Estas inúmeras linhas de água descem montanha abaixo na direcção do Salão, dos Cedros e da Praia do Norte revelando que este é o lado da ilha mais exposto às chuvas. Nalgumas zonas há grandes manchas de criptomérias, uma bonita espécie florestal proveniente do Japão.



Continuando por estas veredas, já virados a oeste avistamos três crateras mais pequenas: o Cabeço Verde, o Cabeço do Fogo e o Cabeço da Fonte. Estão alinhadas com o Vulcão dos Capelinhos que fica no limite oeste da ilha e que se distingue claramente dos outros por não ser verde mas sim castanho devido à sua erupção muito mais recente. A perspectiva que esta caminhada nos dá da ilha é muito interessante pois é muito abrangente e conseguimos localizar e relacionar no terreno acidentes geológicos que de outra forma só no mapa é possível fazê-lo, quase como uma vista aérea.

Quando nos viramos a sul, sempre pela crista da cratera, encontramos a estrada de alcatrão que se dirige ao ponto mais alto do Faial, o Cabeço Gordo, a 1043 metros de altitude. Caminhamos ao lado da estrada até às antenas e, daí, para baixo na direcção novamente do parque de estacionamento da caldeira, onde começamos o nosso passeio. Temos então à nossa frente o imponente e magnífico Pico, o ponto mais alto de Portugal com 2351 metros.



A caminhada dura cerca de 3 horas e devemos ter em atenção que o tempo nos Açores é muito irregular, podemos começar com sol e acabar com chuva e muito vento. Recomendo consultares a previsão meteorológica e levares um corta-vento e chuva, agasalhos e farnel numa mochila. Tens que ter em atenção também que nalgumas zonas da caminhada há algumas falésias que estão mais expostas e não têm protecções. Nessas zonas, recomendo escolheres o trilho mais distante das falésias.

Claro que todas estas vistas só são possíveis de ver em dias de boa visibilidade, o que nem sempre acontece nos Açores. A melhor altura é sem dúvida o verão mas noutras épocas do ano também podemos ter a sorte de ter bom tempo.

Aproveita os Açores!

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