Desde final de 2008 que tenho colaborado mensalmente com a Sportlife. No Outside relato as minhas aventuras pelo nosso maravilhoso país e passarei também a partilhá-las convosco aqui. Às vezes colocarei aqui qualquer outro passeio que realize. Gostaria muito que me dessem a vossa opinião, se fizerem algum desses passeios ou simplesmente se vos der vontade disso. Digam-me que mais informações gostariam de ver publicadas nos nossos artigos.

Estarei à vossa disposição para qualquer dica extra que precisarem para fazer alguma destas aventuras ou outras.

Espero que gostem e se aventurem!

Filipe Palma

sexta-feira, 12 de março de 2010

Fev 10 - A Pé no Topo de Portugal







"Alta, imensa, enigmática, a sua presença física é logo uma obsessão" – assim se referiu Miguel Torga à Serra da Estrela. No continente é a nossa montanha mais alta. Tem 1993 metros e, no topo, uma torre de 7 metros, inicialmente mandada erigir por D. João VI no século XIX. Esta torre perfaz os 2000 metros necessários, não se sabe bem para quê. Uma possível resposta, hilariante, poderá ser encontrada no filme com o actor Hugh Grant, “O Inglês Que Subiu a Colina e Desceu a Montanha”.







A Serra da Estrela está integrada no parque natural do mesmo nome (PNSE). Com 89136,53 é a segunda maior área protegida de Portugal sendo apenas suplantada pelo Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina. Qualquer época do ano é excelente para visitar o Parque Natural da Serra da Estrela. De Verão, apesar das temperaturas no interior de Portugal serem muito elevadas (segundo a expressão popular: “Nove meses de Inverno e três de Inferno”), em altitude acaba por ser mais fresco e agradável para passeios outdoor. As meias estações, Primavera e Outono, são de clima ameno, ideal em qualquer região do nosso país. O Inverno, sendo a Serra da Estrela o local mais alto de Portugal, é particularmente aliciante pois é onde temos a maior probabilidade de encontrar neve. E o outdoor com neve proporciona-nos paisagens e experiências completamente diferentes, bonitas e agradáveis (se estivermos bem protegidos do frio).







Fomos à Serra da Estrela em pleno Inverno. Apanhámos já muita neve e, para evitar as longas filas de trânsito que se estendem para baixo a partir da Torre, o cume da serra, optámos pelo Covão da Metade (geralmente conhecido pelo Covão d’Ametade). Esta depressão encontra-se perto do topo da montanha onde se encontrava a origem do glaciar na última glaciação e onde nasce actualmente o rio Zêzere. Daqui, temos uma boa perspectiva do amplo vale em U, moldado pelo deslize dessa enorme língua de gelo na direcção do local onde hoje em dia se encontra Manteigas. O Covão da Metade é um local muito bonito, com tradição no montanhismo português. Aqui estabelecem-se as bases para as actividades invernais e é onde já muitos alpinistas portugueses deram os seus primeiros passos. Como não levávamos material de segurança específico para o montanhismo limitámo-nos a passear a pé nas zonas mais planas. Junto ao estacionamento está um parque onde se pode acampar e onde passa o rio Zêzere, ainda muito jovem. A Serra da Estrela é também berço de dois outros rios importantes, o rio Mondego e o rio Alva. Neste passeio pudemos admirar os Cântaros Magro, Gordo e Raso, imponentes maciços rochosos que envolvem Covão da Metade. Sem neve é possível partir daqui para passeios mais longos, montanha acima.







Um pouco mais abaixo, a 1580 metros de altitude, na vertente virada a Seia, partimos num percurso pedestre à volta da Lagoa Comprida. O acesso é pela estrada nacional nº 339, entre o Sabugueiro e a Torre. Este percurso é de orientação simples pois segue sempre à volta da lagoa. Algumas passagens têm que ser feitas com ponderação, principalmente de Inverno, quando as superfícies húmidas se congelam e ficam muito escorregadias. Esta lagoa resulta do aproveitamento dum covão onde, antigamente, também deslizava um glaciar. Efectivamente, esta é a zona de Portugal onde melhor podemos testemunhar os efeitos da última era glaciar. A área circundante é de grande riqueza florística e faunística habitando nestas paragens, entre outras espécies, a lontra, o rato d’água e a cegonha negra. Se quiseres estender o passeio, principalmente com tempo ameno, podes percorrer todo o PR11 que passa nos Charcos, represa do Vale Rossim, Covão do Urso e barragem do Covão do Forno.





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